sábado, 20 de junho de 2009

Meeting VIDA MARINHA repete sucesso em Santos

Reitor da Unimonte, Ozires Silva, aponta a educação como fator essencial para a preservação
foto José Luiz Borges
 
Foram dois dias de debates sobre as questões do ambiente marinho
 
O "Meeting VIDA MARINHA - Desenvolvimento e Preservação dos Mares", encerrado na última sexta-feira (19/06), no Terminal Marítimo de Passageiros Giusfredo Santini - Concais, no Porto de Santos (SP), abordou temas que certamente influenciarão positivamente o mundo submerso, consequentemente, melhorando a qualidade de vida como um todo. Para esta segunda edição, cerca de 700 pessoas se inscreveram mostrando que a iniciativa da TV Tribuna, afiliada Rede Globo na Baixada Santista e Vale do Ribeira, em debater o tema é uma das preocupações atuais.
 
Na abertura do segundo dia, o Prof° Doutor da Universidade Estadual Paulista (UNESP), Otto Bismark F. Gadig, apresentou a palestra: "Ataques de tubarões e sua relação com impactos ambientais". Para ele, que é PhD em Tubarão, a principal ameaça está nas ações do homem. As conseqüências do desenfreado aumento imobiliário nas orlas, a falta de saneamento básico e a exploração sem controle da pesca industrial são fatores que implicam diretamente no desequilíbrio do ecossistema.
 
"É preciso mudar o comportamento do homem e não do tubarão", alertou o especialista que acompanha há mais de duas décadas as espécies ao redor do planeta. "O impacto ambiental afeta a vida deles de tal forma que eles saem do seu habitat natural a procura de comida podendo chegar em praias habitadas". Presente em vários casos que ocorreram em Recife, Gadib aponta a falta de conhecimento e de planejamento urbano como responsáveis pelas fatalidades na cidade do nordeste.
 
Uma delas foi a construção do Porto de Suape, interferindo no ecossistema marinho, e conseqüentemente, alterando a cadeia alimentar. "Se onde havia comida não tem mais, eles saem a procura", avisou. A urbanização da praia de Boa Viagem também é outra causa para os acidentes. "Com mais pessoas freqüentando as praias, gera mais movimento nas águas. E como eles querem se alimentar, é para lá que irão buscar". Gadig também constatou que devido às ocorrências, foram destruídas os berçários que ficavam nos manguezais. "Isso provocou uma peregrinação e passaram a ocupar outras regiões".
 
Entretanto, estudar detalhadamente cada caso ajuda encontrar os possíveis motivos. "É preciso conhecer o lugar, que espécies existem, entender a variação geográfica". O especialista em tubarões também afirmou que um acidente não necessariamente coloca o local em risco. "A mídia tem um papel fundamental nisso. Cada vez que divulga um ataque, as pessoas ficam contra os tubarões e afasta o turismo". Ele lembrou que países como Japão, Austrália e Estados Unidos, como Flórida e Califórnia, são áreas onde existem ataques e nem por isso, as pessoas deixam de visitar.
 
Após o tema sobre tubarões, o reitor do Centro Universidade Monte Serrat - UNIMONTE, Ozires Silva, apresentou a palestra: "Educação - Um grande fator de transformação". Em sua explanação, ele falou da globalização da informação e que é preciso aprimorar a educação. Para ele, a realidade mundial impõe quatro bases para o progresso e crescimento das nações: mobilidade, comunicação, informação e eficiência.
 
"O Brasil não pode perder a corrida da educação", disse comparando ações de outros países que investiram em campanhas que deram certo. "A China lançou uma das mais extraordinária expansão em educação no mundo moderno". Ozires Silva ainda citou dois cases de sucesso como a Coréia e Estados Unidos. No país americano ocorreu uma campanha publicitária em todas as revistas que iniciava o texto com a seguinte frase: As crianças são os engenheiros e cientistas de amanhã, mas elas precisam de nossa ajuda.
 
Aos 78 anos de idade, Ozires Silva falou com muita propriedade. Oficial da Aeronáutica, engenheiro formado pelo Instituto Tecnológico da Aeronáutica (ITA) e autor de vários livros sobre educação e empreendedorismo, ele compartilhou a sua experiência na criação da Embraer, empresa que presidiu até 1986, assim como outras importantes no cenário como a Petrobras e Varig. Nos anos de 1990 a 1991, assumiu o Ministério da Infra-estrutura.
 
Ainda pela manhã, ocorreu o Painel: "Porto de Santos na luta pelo meio ambiente: O impacto causado pela água de lastro no aquecimento Global". Para debater estavam os especialistas: Newton Narciso Pereira, Presidente da ONG Água de Lastro Brasil e pesquisador da Escola Politécnica da USP; Aluisio Souza Moreira, Engenheiro da Codesp e doutorando da Universidade de São Paulo; e Solange Lessa, Ph.D. em Ciências (ICBII/USP-SP) na área de Concentração de Perigos Microbiológicos com foco na Gestão Ambiental Portuária.
 
O assunto é novo, mas os problemas causados pela água de lastro são antigos e preocupantes. Os navios, para terem estabilidade quando estão navegando sem cargas, recolhem água do mar, que serve de lastro, e armazenam em tanques nos porões. Em alto-mar sem o lastro, as embarcações podem ficar descontroladas, correndo o risco de partir ao meio e afundar. A água de lastro compensa a perda de peso de carga e de combustível, regulando a estabilidade e mantendo a segurança. Nos portos, ao serem carregados, essa água é despejada colocando em risco o meio ambiente local.
 
Apesar dos avanços tecnológicos, ainda não foi possível substituir a água para servir de lastro nas embarcações. Outra preocupação é eliminar ou minimizar a presença de microorganismos evitando a exportação de um local para o outro. "Soluções já foram testadas e apresentadas mas ainda não são suficientes para evitar a invasão de espécies exóticas de um local para outro", disse Newton Narciso Pereira. Entre elas estão o mexilhão dourado, água viva, moluscos, siris. Como não pertencem ao habitat natural onde são despejados, são riscos de contaminação e proliferação desordenada, afetando o ecossistema local.
 
Newton deu exemplo de mexilhões que invadem as usinas hidroelétricas. "Duas vezes por ano, a usina de Itaipu para suas máquinas para limpeza e retirada desses invasores. A multiplicação das espécies é tão rápida a ponto de diminuírem o diâmetro das turbinas. Isso gera prejuízos enormes", destacou. "Os estudos dos problemas da água de lastro são recentes. Há 15 anos, não se discutia isso e só em 2004 foi realizada a primeira convenção internacional".
 
Além da invasão de espécies exóticas, o risco de contaminação com microorganismos presentes nas águas de lastro também foi outro ponto da discussão. Solange Lessa, especialista no estudo das salmonelas, que provocam infecções em seres humanos, como diarréia e dores abdominais, estudou as águas das regiões portuárias em Belém (PA), Fortaleza (CE), Recife (PE), Itaguaí (RJ), Santos (SP), Paranaguá (SP) e Rio Grande (RS).
 
Ela constatou que em Paranaguá, Santos, Belém e Recife há maior risco de ocorrer o transporte das salmonelas por meio da água de lastro dos navios. A origem mais provável dos microorganismos são redes de esgoto clandestinas que deságuam nas regiões portuárias. "O controle microbiológico da água nos portos não é feito como nas praias, onde há maior contato da população, pois a água é utilizada somente para navegação".
 
Solange defende um maior controle microbiológico da água do mar em regiões portuárias. "Fica um alerta para os órgãos de vigilância sanitária e epidemiológica. As marés podem levar os microorganismos para as praias e bancos naturais de proliferação, e a simples ingestão da água já traria riscos para os banhistas".
 
Para o engenheiro da Codesp, Aluisio Souza Moreira, é preciso definir uma política ambiental portuária eficiente, com uma mudança e adaptação na gestão dos portos no intuito de amenizar e eliminar os riscos trazidos com a água de lastro. Além disso, a questão do saneamento básico no país é urgente e um dos fatores que contribuem consideravelmente para que as águas brasileiras fiquem com um índice alto de contaminação.
 
Na parte da tarde, duas palestras e um painel encerraram o Meeting. A coordenadora da Campanha de Oceanos do Greenpeace, Leandra Gonçalves, foi a primeira a se apresentar e fez uma alerta: "Nossos oceanos estão à deriva".
 
Entre as diversas causas ambientais que o Greenpeace defende, a preservação dos mares recebe atualmente uma atenção especial. Em uma pesquisa realizada pela própria ONG, foi constatado que o ambiente marinho é o que menos tem importância para as pessoas quando se fala em preservação ambiental. "Isto é incoerente quando estamos em um planeta com 70% de oceano, e um país com mais de 8 mil Km de costa marinha", comentou.
 
O foco principal do Greenpeace nos últimos anos, tem sido a luta contra a caça científica de baleias no Japão. "Vocês que são biólogos marinhos e oceanógrafos, sabem perfeitamente que não precisa matar 1.000 baleias para se fazer uma pesquisa", alertou a coordenadora diante de uma platéia de acadêmicos.
 
Ela também fez uma crítica a grande mídia: "Vemos os jornais apresentarem o problema da Amazônia constantemente, mas os oceanos quase não são destacados, a Amazônia representa apenas uma parte do nosso ecossistema". A palestrante aproveitou o assunto para elogiar a iniciativa inédita da TV Tribuna, em promover um encontro para discutir o ambiente marinho e encontrar soluções para os mares.
 
Para a representante do Greenpeace, os problemas sociais como a fome, a saúde e o desemprego, podem ser amenizados se tivermos um mar sadio. Em um vídeo exibido durante a palestra, o mar foi citado como uma fonte de alimento, transporte e lazer, que libera 50% do ar que respiramos.
 
"Se a sociedade não exercer a conscientização e ação, fica difícil cobrar as autoridades", disse Leandra. Ela também instigou os estudantes presentes a transformarem suas teses de TCC, mestrado ou doutorado, em políticas públicas: "Os projetos têm que sair dos corredores das universidades para beneficiarem a grande massa."
 
O tema preservação dos mares teve continuidade com o Painel: "A criação de Áreas de Proteção (APAs) no litoral de São Paulo e seus desafios na preservação, na criação de Regras flexíveis e na fiscalização". O debate contou com a presença de Pedro Ubiratan Escorel de Azevedo, Secretário Adjunto da Secretaria Estadual do Meio Ambiente, Ingrid Furlan Oberg, que é chefe regional do Ibama, e Cintia Miyaji, coordenadora do curso de Oceanografia da Unimonte.
 
Ingrid Oberg salientou o papel do Ibama na atuação em áreas preservadas. A entidade é responsável, em parceria com a Polícia Ambiental, pelo controle da pesca em determinadas áreas e pelo ordenamento pesqueiro, ou seja, a criação de regras. "É fundamental preservar áreas marinhas, não só para permitir a reprodução das espécies, mas para que a pesca seja utilizada pelas gerações futuras"
 
Ela também enfatizou a importância de ter representantes de comunidades caiçaras nos laboratórios de pesquisas. "As APAs marinhas permitem a presença dos pescadores nos laboratórios, para se informarem sobre o que está sendo feito em benefício deles também, isso é ótimo!"
 
Falando em inserção, Cintia Miyaji pleiteou a presença de universidades da região no projeto: "O conhecimento científico está sendo gerado aqui na Baixada Santista, todas as instituições devem participar, não só a USP".
 
Pedro Ubiratan afirmou que a criação das APAs terá representantes do poder público e da sociedade civil. Em sua palestra, o secretário apresentou um mosaico das Ilhas e Áreas Marinhas protegidas do Litoral Paulista. São três APAs, divididas entre litoral sul, litoral norte e central. No litoral sul, estão incluídas as áreas marinhas de Iguape, Ilha Comprida e Cananéia. A laje de Santos também será contemplada como área de preservação marinha.
 
O trabalho consiste basicamente em ordenar de maneira favorável, tanto a natureza quanto o desenvolvimento turístico e pesqueiro. Pedro afirmou que já foram criados três conselhos para a viabilização do projeto. Apesar de não ter sido colocado em prática ainda, especialistas afirmam que o ideal é ter pelo menos 10% de área marinha protegida até 2012.
 
Finalizando o meeting, a palestra "Programa Antártico Brasileiro" contou com a presença do contra-almirante Francisco Carlos Ortiz, secretário da Comissão Interministerial para os Recursos do Mar e do capitão-de-mar-e-guerra José Robson Medeiros, sub Secretário para o Programa Antártico Brasileiro. Foi apresentado as instalações da Estação Antártica Comandante Ferraz, localizada na Ilha Rei George, a 130 km da península Antártica.
 
A base científica brasileira, com 25 anos marcando presença no continente gelado, já recebeu quase mil cientistas, que trabalham para entender a região mais inóspita do planeta. Segundo Medeiros, as alterações climáticas que acontecem no mundo são percebidas primeiramente na Antártica. No final da década de 80, mais especificamente na base inglesa Halley, que foi dado o primeiro alerta sobre o buraco na camada de ozônio.
 
Assim que encerrou a palestra foi sorteado um quadro do artista plástico Erick Wilson. O felizardo que levou a obra foi José Soares Filho, do Guarujá. Mergulhador e Instrutor de Mergulho, ele saiu satisfeito não pela sorte que teve mas também pelo assunto debatido. "O Lawrence foi meu aluno e ele me convidou para vir participar. Este evento tem uma importância enorme e que venha o terceiro".
 
O "Meeting "VIDA MARINHA - Desenvolvimento e Preservação dos Mares" é uma iniciativa da TV Tribuna, afiliada Rede Globo na Baixada Santista e Vale do Ribeira, e realização Una Marketing de Eventos. Com patrocínio da Unimonte e Grupo Rodrimar. Apoio: MedMar, Concais, Mar Sub, Cine Roxy-Santos e Santos Film Commission.
 
Por Marcos André Araújo e Anna Gabriela Ribeiro


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