sexta-feira, 19 de junho de 2009

Excessos em nome da beleza é tema de palestra em Vitória


Beleza, estética, cirurgias plásticas em excesso: este é o tema da palestra que o cirurgião plástico Ruben Penteado proferirá em Vitória, ES, no dia 20 de junho, durante o 16° Congresso Vidativa de Estética

O aprimoramento das técnicas de cirurgia plástica é tão patente e a assimilação cultural dos tratamentos estéticos tão rápida que tudo o que parecia complicado, ou tabu, num passado recente, se revela de uma outra maneira hoje. No princípio, plástica era coisa para depois dos 50 anos; antes disso, só mesmo correção de nariz e orelha em casos de extrema necessidade ou uma discreta redução de seios. Muitos ainda se lembram da época em que fazer uma cirurgia plástica era algo ultra-secreto... E que toda mudança no nariz era para corrigir um "desvio de septo". Atualmente, com exceção do Michael Jackson, ninguém tem vergonha de assumir que deu uma repaginada no visual. As técnicas avançaram, o custo caiu e o número de operações aumenta a cada ano. No Brasil, o crescimento foi de 300% nos últimos nove anos, segundo a Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica.

Mas para muita gente, melhorar um pouco o visual não basta. Reality shows como Extreme Makeover (Sony) e I Want a Famous Face (MTV) mostram personagens que passaram por uma reforma geral: implante no queixo, rinoplastia, silicone aqui, ali e acolá, tudo em questão de semanas. "Certo ou errado? É melhor não fazer julgamentos precipitados. É preciso procurar compreender o momento em que vivemos", defende o cirurgião plástico Ruben Penteado, diretor do Centro de Medicina Integrada, em São Paulo.

As cirurgias plásticas de hoje não lembram as do passado. Elas estão menos invasivas, mais seguras – e seus resultados, bem mais sutis. "Desde, é claro, que o paciente seja atendido por um bom profissional. Foi-se o tempo dos rostos esticadíssimos e narizinhos arrebitadíssimos, que davam aos pacientes a aparência de um boneco. A boa plástica é aquela que, quando o operado chega a uma festa, todo mundo repara que algo mudou, mas ninguém consegue dizer exatamente o quê", observa Ruben Penteado.

Hoje, para obter uma aparência remoçada, os cirurgiões não se limitam a mexer na superfície do rosto do paciente. Antes, com cortes enormes, feitos de orelha a orelha, eles descolavam a pele, a esticavam e pronto: o serviço estava feito. "Atualmente, além da repuxada tradicional, procuramos trabalhar os músculos da face, remodelando-os de tal forma que recuperem o tônus. Os procedimentos tentam deixar cicatrizes quase imperceptíveis", explica o médico.

Para levantar a expressão, uma das técnicas mais modernas é a videoendoscopia. Utilizado originalmente em operações gástricas e ginecológicas, o método ganhou adeptos entre os cirurgiões plásticos por apresentar riscos menores. O médico opera por quatro pequenas incisões na linha do couro cabeludo e na região das têmporas. Nesses cortes, são introduzidas cânulas extremamente finas. Três carregam os bisturis e uma, uma microcâmera. O cirurgião se guia pelas imagens transmitidas num monitor de vídeo. "Por enquanto, a videoendoscopia vem sendo utilizada apenas para levantar as sobrancelhas e amenizar as rugas ao redor dos olhos. É preciso mais tempo de experiência com a técnica para avaliar se o seu uso pode ser estendido a outras áreas do corpo", afirma o diretor do Centro de Medicina Integrada.

Quem deseja efeitos mais amplos tem a opção de recorrer a artifícios como o minilifting, versão mais leve do lifting tradicional. A operação é indicada para feições envelhecidas, mas que não exigem uma plástica facial das mais radicais. "O minilifting resolve casos de flacidez das bochechas e marcas de expressão, principalmente os sulcos ao redor da boca. Os resultados podem permanecer estampados no rosto por até uma década. O método, porém, também tem suas limitações. Não resolve, por exemplo, o excesso de pele ou a flacidez debaixo do pescoço", diz Ruben Penteado.

Excessos

A popularização da cirurgia plástica no Brasil é fruto de um conjunto de fatores que englobam: o aprimoramento das técnicas, a estabilidade econômica proporcionada pelo Real, a maior participação feminina no mercado de trabalho, o aumento da população idosa, dentre muitas outras razões que pudermos enumerar. "Considero um equívoco atribuir o aumento ou o excesso de cirurgias plásticas a um único fator. Inevitavelmente, quanto mais a mulher ou o homem se empenha em rejuvenescer, maior a certeza de que, em dado momento, ele poderá extrapolar seus limites neste processo. Umas pessoas extrapolam mais, outras menos", observa Ruben Penteado.

Além do livre arbítrio, existe  também um ambiente social favorável, em que celebridades discutem as minúcias de seus adendos corporais, do retoque nas pálpebras às próteses nos seios, contribuindo para a disseminação dos procedimentos estéticos. "São muitas as vozes contra a maciça disseminação de expectativas irreais sobre a cirurgia plástica, especialistas em ética denunciam a exposição dos pacientes e cultores da estética queixam-se da entronização de um modelo de beleza pasteurizado e exagerado. As pessoas submetidas a um grande número de intervenções de fato sofrem uma 'plastificação' facilmente identificável nos seios e dentes grandes demais, nas maçãs do rosto excessivamente ressaltadas e nos famosos lábios hiperinflados", afirma Ruben Penteado.

Os efeitos benéficos da cirurgia estética sobre a disposição de espírito são conhecidos na prática – e na teoria também. "O benefício da plástica é maior para aqueles que aceitam a opinião do cirurgião plástico e têm consciência dos resultados que podem ser alcançados pela medicina, bem como o de suas limitações. Já para aqueles que alimentam sonhos utópicos de beleza e que buscam na cirurgia plástica a magia que a própria história revelou não ser possível - fugindo assim, dos preceitos médicos e exigindo resultados que ultrapassam as limitações da medicina – outras opções terapêuticas podem ser mais indicadas", defende Ruben Penteado, membro da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica.

Termômetro de excessos

Não há nada de errado em querer perder gordura localizada por lipoaspiração, eliminar pés-de-galinha com um lifting ou aumentar um pouco os seios com silicone. Melhorar o corpo e rejuvenescer o rosto ajuda a manter a auto-estima lá em cima, com reflexos na vida pessoal e profissional. "Quando os anseios dos pacientes não são plausíveis, o cirurgião plástico está apto a intervir neste processo, mediando a situação em prol da saúde e do bem estar do paciente", diz Ruben Penteado. A seguir, o especialista listou algumas condutas que podem indicar que a temperatura está subindo além do recomendado quando o assunto é a aparência física, veja:

1) Dismorfia corporal - Em 1987, a Academia Americana de Psiquiatria classificou de doença a obsessão por rostos e corpos perfeitos. O distúrbio recebeu o nome de dismorfia corporal. Quem tem o problema acaba por ter uma visão distorcida de si mesmas. Qualquer imperfeiçãozinha, como um culote levemente proeminente, é posta sob uma lente de aumento e se torna um problemão. Nos casos mais graves, a dismorfia corporal leva à depressão. As vítimas dessa doença estão se tornando cada vez mais comuns nos consultórios de cirurgia plástica. "São pacientes que não param de se submeter a uma intervenção atrás da outra, como se as possibilidades cirúrgicas não tivessem um limite", alerta Ruben Penteado;

2) Banalização de técnicas e procedimentos - Dentre os procedimentos estéticos mais rentáveis e menos demorados, estão as aplicações de Botox, substância feita a partir da toxina botulínica, causadora do botulismo e empregada para atenuar rugas faciais. "É um erro pensar que aplicação de Botox pode ser feita por qualquer um. Erros graves podem ocorrer se o profissional não tiver preparo, como por exemplo: em excesso, a substância, que provoca uma paralisia muscular circunscrita, deixa a face sem nenhuma expressão, causando o efeito conhecido como 'rosto de boneca'", explica o médico. Estima-se que 20% das operações estéticas realizadas no Brasil a cada ano sejam absolutamente desnecessárias. A campeã da "inutilidade" é a lipoaspiração. Na maioria dos casos, ela pode ser substituída pela combinação de dieta e exercícios físicos. "Mas quem resiste à promessa de um corpinho enxuto sem maiores sacrifícios? Pois é, só que lipoaspiração não é saída para emagrecer. Serve apenas para retirar gordura localizada – e, mesmo assim, se depois da lipo a pessoa não persistir na ginástica e no regime, os culotes e pneuzinhos voltam logo", avisa o médico;

3) "O nariz de Cicrana", "os seios de Fulana" - Os seios de Gisele Bündchen ou a boca de Julia Roberts são obras de arte da genética. Mas só o são porque fazem parte de um conjunto harmonioso, que nenhum cirurgião plástico é capaz de reproduzir. "Diante de pedidos do tipo 'quero o queixo de fulana' ou 'a barriga de sicrana', os profissionais sérios dizem a suas clientes que a coisa não funciona assim. E, se a insistência for grande, simplesmente se recusam a fazer a operação", afirma Ruben Penteado.;

4) Idade precoce - Além do público feminino, a cirurgia estética está atraindo cada vez mais o público jovem. Segundo dados da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBCP), em 2006, foram realizadas 700 mil plásticas estéticas no país, sendo que os adolescentes -  entre 14 e 18 anos -  representaram 15% desse total, ou seja, 105 mil jovens se submeteram a algum tipo de intervenção estética. Segundo Penteado, em muitos casos, é muito difícil para os pais imporem limites aos filhos, mas eles são necessários e cada família lida com estes conflitos de  maneira distinta. Quanto ao papel do médico neste processo, Ruben defende que "a insatisfação que o adolescente relata com o próprio corpo deve ser encarada com critérios médicos, para que haja uma indicação precisa da cirurgia plástica. É necessário também avaliar a maturidade física e emocional do adolescente e informar ao paciente e aos pais os passos da cirurgia, os riscos e as possibilidades de complicações, bem como as restrições no período de recuperação", diz.

SERVIÇO:

www.medintegrada.com.br

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Márcia Wirth / Excelência em Comunicação na Saúde
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