Por Nilbberth Silva
Os cânticos dedicados a Maria, mãe de Jesus, retratam-na como libertadora, protetora dos necessitados e mediadora entre os homens e Jesus, mostra uma pesquisa da USP. O estudo classificou os títulos dados à santa tendo como base 50 cânticos selecionados.
Durante o seu mestrado, apresentado na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP, a professora Eliane Silva classificou 156 títulos em grupos pelo seu conteúdo. A maioria deles – 98 – foram classificados como “populares” que não necessariamente são reconhecidos pela igreja. Eles referem-se ao caráter libertador de Maria, sua aproximação com os pobres e o fato de ter sido, segundo a crença cristã, a escolhida de Deus. São exemplos: “Força feminina”, “Mãe do céu morena”, “Mãe do terceiro mundo” e “Senhora dos peregrinos”. A pesquisa de Eliane foi orientado pelo professor Osvaldo Ceschin.
A pesquisa identificou que a maioria dos cânticos foi escrita por brasileiros - devotos leigos de Maria e padres – sendo que muitos deles têm uma ligação com as ideias difundidas pela teologia da libertação. Quando os cânticos se espalham, as autoridades católicas verificam se eles estão de acordo com os ensinos. Caso obtenham resposta positiva, eles podem ser publicados e cantados nas paróquias. “Como a Igreja Católica é hierarquizada e vertical os cânticos encontrados em São Paulo podem estar presentes em outras regiões do País, de Norte a Sul”, explica Eliane. A pesquisadora procurou os cânticos em hinários de bibliotecas de São Paulo, participou de ensaios de coral e conversou com freiras.
Além dos títulos populares, estão presentes nos cânticos em questão os títulos teológicos e dogmáticos. Eles usam a doutrina e os dogmas católicos como a fonte principal de dados e retratam aspectos de Maria como a sua virgindade e assunção. Por fim, existem títulos nacionalistas, como “Rainha do Brasil” e “Senhora da América Latina”, simbólicos “Bússola e Luz”, “Estrela” e os títulos familiares, como “Esposa”, “Senhora” e “Mãe de uma família”.
Santa das massas
“A Maria mostrada nos cânticos”, diz Eliane, “é uma santa dos humilhados e pobres – favelados, pessoas que moram na beira das estradas, peregrinos, encarcerados, negros, indígenas e de todos aqueles que são marginalizados pela sociedade. Ela agrega essas pessoas”.
“A Maria mostrada nos cânticos”, diz Eliane, “é uma santa dos humilhados e pobres – favelados, pessoas que moram na beira das estradas, peregrinos, encarcerados, negros, indígenas e de todos aqueles que são marginalizados pela sociedade. Ela agrega essas pessoas”.
Segundo Eliane, Maria é retratada assim talvez devido às carências dos devotos. “Tomando por base algumas pesquisas relacionadas nessa questão, eu consegui identificar que Maria é uma santa das massas”, explica. “Na maioria das vezes nós encontramos o povo religioso morando em setores que não fazem parte da classe mais abastada.”
Os cânticos também mostram uma Maria que media a relação entre Jesus e o religioso. “Maria aparece como alguém que vai ouvir os pedidos e dar um jeito de solucioná-los”, explica Eliane. A santa é mostrada nos cânticos como uma pessoa que liberta da escravidão, alimenta as crianças, dá abrigo e proteção, ajuda os peregrinos, soluciona a fome e a pobreza. Outros problemas que ela resolve são depressão, escravidão, desemprego e abandono.
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