Pesquisa da Faculdade de Ciências Farmacêuticas de Ribeirão Preto (FCFRP) da USP mostra que 60% das gestantes que utilizam medicamentos durante a gravidez não recebem informação sobre possíveis riscos da medicação para a saúde do feto. O estudo, realizado com 699 mulheres com mais de 30 semanas de gestação no interior de São Paulo, ressalta a necessidade de orientação adequada sobre medicamentos muito utilizados, como os receitados para cólicas, mas que não possuem estudos aprofundados sobre seus efeitos.
"Durante a gestação, os medicamentos ingeridos pela mãe podem atravessar a placenta e provocar efeitos teratogênicos, como defeitos na formação do feto", afirma a farmacêutica Andrea Fontoura, que realizou a pesquisa. "Todo medicamento é lançado após exaustivos testes clínicos com seres humanos, mas como eles não podem ser realizados em gestantes, seus efeitos deletérios são conhecidos apenas quando já estão no mercado."
Das gestantes entrevistadas, 98% apontaram que usavam pelo menos um tipo de princípio ativo, com um número médio de sete princípios ativos por gestantes – uma das mulheres revelou que usava 34 medicações diferentes. O trabalho utilizou a classificação da Food and Drug Administration (FDA), órgão regulador de medicamentos nos Estados Unidos, que divide os princípios ativos em cinco grupos. Os medicamentos mais utilizados pelas gestantes estão nas categorias A e B, com 20,55% e 25,20%, respectivamente. "Os estudos existentes demonstram que esses grupos de medicamentos não tiveram efeitos teratogênicos sobre os fetos", afirma Andrea.
A farmacêutica alerta para os riscos da utilização dos princípios ativos da categoria C, verificada em 14,07% das mulheres pesquisadas, e que inclui a escopolamina, receitada em casos de dor e cólicas. "Essa categoria inclui medicamentos que apresentaram efeitos adversos no feto em pesquisas sobre reprodução animal", ressalta. "Entretanto, em seres humanos, não existem estudos adequados ou os resultados não foram divulgados".
Orientação
Embora 86,4% das gestantes utilizem medicamentos com prescrição médica, 60% não receberam nenhuma orientação sobre a medicação utilizada. De acordo com a pesquisadora, essa disparidade acontece porque em muitos casos os medicamentos são apenas entregues pelo farmacêutico com a apresentação da receita. "Na verdade, a medicação deveria ser dispensada, ou seja, no ato da entrega são fornecidas todas as informações necessárias para o usuário", explica.
Apenas uma das gestantes pesquisadas usava medicamentos da categoria X, que apresenta maiores riscos ao feto, uma mulher que tomava anticoncepcional e soube da gestação apenas no quinto mês de gravidez. "Além dos contraceptivos, o grupo também inclui medicamentos como a isotretinoína, utilizada para tratamento de acne severa, e a vitamina A em doses elevadas", diz a farmacêutica. "A Política Nacional de Humanização do Pré-Natal e Nascimento, adotada pelo Ministério da Saúde, prevê a captação precoce das gestantes, que devem passar pela primeira consulta do pré-natal antes de completarem 120 dias de gravidez."
Andrea recomenda a presença de farmacêuticos nas equipes de saúde que cuidam das gestantes durante o pré-natal. "Elas não devem utilizar medicamentos sem receberem informações adequadas sobre os possíveis efeitos negativos dos princípios ativos", conta.
A farmacêutica também aponta que a realização de estudos farmacoepidemiológicos sobre a utilização de medicamentos ajuda a promover seu uso de forma mais racional. "De posse dessas informações, é possível deixar de prescrever medicação apenas por prescrever, sem consciência dos riscos para a gestação". O trabalho foi orientado pelo professor Leonardo Régis Leira Pereira, da FCFRP, para a dissertação de Mestrado de Andrea, defendida no último mês de setembro.
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