Por Fabrício Oliveira, do USP Online
Como identificar se um jogador de futebol tem realmente a idade que declara? Como definir cientificamente quais são as condições climáticas que permitem a prática saudável do esporte mais popular do planeta? Qual a melhor abordagem médica para cada problema decorrente do exercício do futebol? Nos últimos anos, técnicas médicas usadas em jogadores, métodos de prevenção de lesões e estudos científicos voltados para a prática do esporte têm sido observados pela entidade maior do futebol, a FIFA.
A federação criou o conceito dos Centros Médicos de Excelência para traçar um padrão de qualidade de diagnóstico e de tratamento de jogadores de futebol por todo o mundo. E o único desses centros sediado na América Latina é do Brasil – mais especificamente, da USP. Trata-se do Grupo de Medicina Esportiva do Instituto de Ortopedia e Traumatologia (IOT) do Hospital das Clínicas (HC) da Faculdade de Medicina da USP (FMUSP).Com a certificação, obtida em outubro passado, o trabalho desenvolvido no IOT é assumido como referência no tratamento de jogadores de futebol e passa a fazer parte de um seleto grupo de centros médicos.
O coordenador do novo Centro de Excelência, André Pedrinelli, afirma que o reconhecimento da FIFA é a consolidação de um relacionamento direto entre a USP, que é "uma instituição exclusivamente universitária", a uma das maiores organizações do esporte mundial. "É uma ponte que busca o crescimento científico e, possivelmente, até material das duas organizações." Arnaldo Hernandez, chefe do grupo de medicina esportiva do IOT, aponta para a importância da abertura do canal direto entre a FIFA e o instituto. "Existe um canal aberto em que a FIFA pode envolver a nossa instituição em seus projetos; por outro lado, nós passamos a ser consultados para algum tipo de decisão ou escolha", conta.
Com o reconhecimento de Centros de Excelência ao redor do mundo, a FIFA pretende universalizar a prática do esporte no planeta, além de concentrar a maior produção possível de artigos relacionados à medicina no futebol. Coordenar e agenciar junto à FIFA a produção de pesquisas voltadas ao futebol são umas das implicações dos centros médicos. "A FIFA também quer ser acreditada como uma instituição séria no aspecto médico", argumenta Pedrinelli. A entidade, assim, se aproxima da formação de conhecimento de novas técnicas e tratamentos no futebol.
A transformação do IOT em um Centro Médico de Excelência começou a ser trabalhada em 2008, durante o Campeonato Mundial de futsal, realizado no Brasil. Pedrinelli é médico da seleção brasileira do esporte e foi responsável, em conjunto com a FIFA, pela organização da área médica do certame. "Por conta da seriedade do trabalho e dos resultados apresentados, nós fomos convidados a apresentar um projeto à FIFA." Este projeto, conta Arnaldo Hernandez, continha um dossiê envolvendo informações sobre os recursos disponíveis no instituto, a capacitação dos médicos, as áreas de especialidades, o número de atendimentos, a experiência em atendimentos a jogadores de futebol e também a produção científica da entidade. "A FIFA é muito rigorosa e criteriosa em sua avaliação e, por isso, foi uma grande satisfação o credenciamento. O que mostra que nossa instituição está num patamar muito alto."
A importância dos centros de excelência é tamanha que, para a Copa do Mundo deste ano, a ser realizada na África do Sul, os dois centros do país-sede participaram da organização da questão médica do mundial, incluindo treinamento em primeiros-socorros, gerenciamento das sub-sedes e outras questões. Os centros participam inclusive de um congresso médico internacional que norteia os trabalhos durante o Mundial; para 2014, já há planos para que o novo Centro de Excelência do IOT participe da realização deste congresso.
Projetos em andamento
Mesmo sendo recente o reconhecimento dado à entidade do HC, os médicos já estão participando de uma pesquisa internacional que pretende acabar com a presença de "gatos" no futebol. Os "gatos" (jogadores que tem idade adulterada para que, assim, possam jogar em categorias de idade inferior e obter certa vantagem) são um problema que há muito a FIFA tenta solucionar. O que está se buscando agora é compreender a idade biológica dos jogadores. "Se o jogador está com 18 ou 20 anos de idade, isso é um detalhe. A FIFA quer saber se ele atingiu a maturidade ou não." Hernandez aponta que em algumas regiões do mundo o controle da data de nascimento dos jogadores é pequeno. "É um projeto do qual já estamos participando e que trará um novo parâmetro pro futebol."
Outra iniciativa, que pode ser proposta pelo instituto à FIFA, é um estudo sobre as condições climáticas a que um jogador de futebol pode ser submetido durante uma partida. "Durante a Copa do Mundo dos EUA [realizada em 1994], o calor era insuportável e as partidas tiveram que ser interrompidas para que os jogadores pudessem tomar água. Será que é necessário expor um atleta a essa circunstância?", comenta Hernandez.
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