Ação Educativa: Exposição Séculos Indígenas no Brasil
Conferência em Brasília
17 de junho de 2010
Tema:
Índios, Igreja: novos diálogos
Falar sobre a cultura indígena e Igreja é uma aventura, pois este encontro foi marcado por cicatrizes profundas e, muitos não gostam de tocar no assunto, sentem aversão, porém, outros observam com naturalidade e esperança.
A história revela um grande palco, onde interagem as mãos de pessoas de bom coração. Aquelas que desejaram a paz e alegria da comunidade, sem excluir ninguém! O coração é onde habita o espírito da floresta, um Deus verdadeiro. E as mãos dos que ambicionaram tudo para si, sem coração, sem perceber a fome das crianças, cujas terras de seus pais foram tomadas, muitas vezes em nome de uma religião, de um deus que não existe.
1. Gentes - sinais
Ontem e hoje. Das ideologias colonialistas às manobras políticas do "progresso e empreendedorismo" - surgiram líderes dentro das aldeias indígenas e da igreja que compreenderam o significado da dignidade humana, reconhecidos depois na alma da história: como o índio manáo, chamado Ajuricaba (séc. XVI: Cabanagem) que resistiu e morreu no Alto Rio Negro pela independência de seu povo da tirania dos portugueses;[1] Sepé Tiaraju foi inscrito no Livro dos Heróis da Pátria. É o primeiro índio herói do Brasil, oficialmente - herói guarani missioneiro rio-grandense – morreu na luta contra a invasão luso-brasileira e espanhola, pelo seu povo – por esse motivo é tido como santo popular;[2] José de Anchieta, jesuíta (séc. XVI) por defender os índios dos abusos dos colonos e por valorizar a língua tupi – escrevendo "Arte de gramática da língua mais usada na costa do Brasil"; quando ainda as Constituições do Brasil não mencionavam os primeiros construtores de sua pátria, José Bonifácio de Andrade e Silva, em 1° de julho de 1823, na Assembléia Constituinte, propunha em seus Apontamentos para a civilização dos índios bravos do Império do Brasil, os seus direitos reconhecidos[3]; os irmãos Vilas-Boas - por valorizar e unir as etnias do Alto Xingu percebi quando estive lá o carinho e saudade que os índios guardam daqueles irmãos; Darcy Ribeiro, como bem escreveu seu sobrinho, sabia que os povos indígenas diante de toda opressão "guardavam no peito um orgulho de si mesmos como índios"[4]; o indigenista do antigo SPI (Serviço de Proteção ao Índio), Mario Arnaud Sampaio, pouco conhecido ainda. Escreveu inúmeros vocabulários guarani-português. A sua vida foi pela divulgação da cultura indígena; a voz de Erwin Kräutler, Bispo do Xingu, presidente do CIMI;[5] do líder da etnia Kocama no Alto Solimões, Antonio Samias - quando celebravam o reconhecimento de seu povo, ouviu-se dele: "Eu sou gente, sou kocama, sou índio de verdade. Meu pai era índio de verdade, meu avô era índio de verdade, assim como aqueles que já morreram".[6] O Samias é meu amigo. Tivemos a satisfação de nos encontrar em Manaus, não era um momento muito bom, pois ele estava fraco, sentado numa cama da Casa de Saúde Indígena.[7] Ele havia chegado um dia antes de Tabatinga. Dentre alguns lances de sua partilha – com olhos baixos disse que algumas partes do Centro Cultural Kocama haviam despencado. Concordamos, pois estive presente em muitos momentos da construção – que o mais importante foi que os sonhos se realizaram, a imagem da união nunca mais se apagou da aldeia.
2. Re-ligare (religar)
Todos nós temos o direito de celebrar nossas crenças, de preservá-la, de acreditá-la. Admirável é a festa do Kuarup no Alto Xingu. [8] Dois pajés ficam a noite toda, até ao amanhecer, cantando, dançando e tocando seus chocalhos, em frente aos troncos da madeira kuarup, representação concreta do espírito dos mortos ilustres. Estes rituais xamânicos[9] no passado, infelizmente, não foram compreendidos, muitas vezes demonizado por missionários. Senti o quanto é bom estar lá no Xingu. A harmonia das pessoas na aldeia, o chão batido, a noite estrelada. Não vi nenhuma briga ou ofensa. Somente a luta ritual do Uka-Uka – luta de amigos. Antes da festa, jovens índias e índios em pares entram nas ocas tocando flauta aruá (bambu), "flautas sagradas", significa que é "para a tristeza ir embora". O som é divino. Assim outras etnias praticam rituais de seus antepassados.
Escolher a religião, o ritual, trocar de fé, sincretizar doutrinas e imagens, criar espaços sagrados, é um fenômeno intrínseco na história da humanidade. Isso sempre ocorreu e vai continuar. No mundo indígena temos etnias que optaram pelas mais variadas confissões e seitas: a) Os Índios Ticuna da Ordem Cruzada Católica, Apostólica e Evangélica na Amazônia[10]; b) Índios anglicanos na Argentina;[11] c) os Macuxi da bacia do Orinoco em Roraima onde somente índios católicos e índios evangélicos podem praticar a pajelança e a cura. Os Ingaricó, etnia desse mesmo tronco linguístico, celebravam um sincretismo cristão-indígena denominado "areruia", ministrado por um pastor e celebrado com danças e uma bebida feita de batata e milho[12]; d) na Boca do Acre assisti, na aldeia Jamamadi, numa pequena igrejinha de madeira azul, um índio pregando a palavra. "Aleluia!? Aleluia!"; e) Etnias que se uniram kariri-Xocó, vivendo à margem do rio São Francisco, município alagoano de Porto Real do Colégio, praticam o catolicismo popular, de veneração dos santos, da proclamação do Credo Católico[13], mas também continuam praticando rituais (Ouricuri)[14] xamânicos – utilizam a Jurema para limpar o corpo e expulsar os maus espíritos[15]; f) A demonstração ritual da etnia Kocama é nova, pois os mesmos há muito perderam seus antigos rituais xamânicos provindos das tradições Tupi, pois destes são descendentes.[16] Mesmo com a presença de uma igreja evangélica pentecostal – os Kocama uma vez por semana se reúnem em seu Centro Cultural para dançar com vestes de tururi pintadas com desenhos resgatados dos kocama da Colômbia. Eles estão recriando, ou melhor, criando outro espaço, outro ritual, quem sabe, outro mito, manifestações xamânicas, sincretismos? Antonio Samaias, com um cigarro de palha, me disse: "Agora vou baixar o caboclo". Em meio à fumaça, olhava para cima. Veremos o que vai surgir. g) Na cidade de Porto Alegre, a três anos atrás um índio pajé kaingang da comunidade do "Morro do Osso" me perguntou se eu não tinha bíblias sobrando para doar para a sua comunidade. O outro líder indígena da comunidade kaingang da Lomba do Pinheiro, que estava junto, brincando, perguntou se eu era da Igreja Católica... Disse que era. Ele: Então leva para nós lá uma igreja. Ainda estou pensando nisso. E assim tantas manifestações e experiências – Nessa mesma cidade, no quintal de uma casa, antes do churrasco, o índio Álvaro pinta Hilda Zimmerman e sua filha, também o Zaqueu Kaingang, sua mulher e crianças... Depois inicia seu canto em língua tucano ao som do chocalho, coroando-nos com seu lindo cocar de penas de águia trazido do Alto Rio Negro.
3. Diálogos - A história continua...
O diálogo entre a Igreja Católica e os Povos Indígenas, dentre tantos acontecimentos, revela as múltiplas faces da tradição religiosa do Brasil. A Igreja Católica não mais impõe sua doutrina nas aldeias – ela pode ser convidada e propor. Hoje, antes de tudo, vale o diálogo:
a) Em nível humano, "significa comunicação recíproca, para alcançar um fim comum, ou em nível mais profundo, uma comunicação interpessoal"; b) "uma atitude de respeito e de amizade, que penetra, ou deveria penetrar, em todas as atividades que constituem a missão evangelizadora da Igreja. Isto pode ser chamado com razão – 'o espírito do diálogo'"; c) no contexto do diálogo inter-religioso, "o diálogo significa 'o conjunto das relações inter-religiosas, positivas e construtivas, com pessoas e comunidades de outros credos para o conhecimento mútuo e um recíproco enriquecimento'(DM 3), na obediência à verdade e no respeito à liberdade" (DA 9). [17]
O diálogo é necessário para esclarecer o lugar do encontro, os pactos, de assumir a identidade nas "diferenças", em todas as relações. Todos são livres para escolher suas crenças, "... o direito da liberdade religiosa se funda realmente sobre a mesma dignidade da pessoa humana (...)", por sua vez direito "deve ser reconhecido no ordenamento jurídico da sociedade...".[18] O índio, a aldeia, podem praticar seus rituais primordiais, mesmo, eleger o culto budista, ser mulçumano, protestante, anglicano, zen-budistas, etc., ou nenhuma, como todo cidadão livre no Brasil.[19] A decisão sincera é o melhor caminho. Em cada crença pode ter gestos, ritos que elevam a comunidade, a alma, a transcender-se com outros nomes: Mawutzinin, o Deus criador dos índios do Xingu; o Deus criador Karosakaybu dos índios Munduruku, e muitos outros. [20] Diz Rufine:
Em primeiro lugar, é necessário revalorizar a importância da luta espiritual, simbólica e ritual de nossos povos, pois é lá que se encontra nossa força maior. Devemos recuperar o perdido, restaurar nossos projetos de vida com seus valores fundamentais, lembrar os mitos, celebrar e reforçar os ritos, reconhecer o devido lugar dos anciãos e anciãs, das sábias e sábios detentores da sabedoria de nossos povos, e dar importância à festa.[21]
Fr. Raniero Cantalamessa, ao responder uma pergunta fez referência ao diálogo entre as religiões, dizendo: "Não podemos manter a superioridade da mensagem sobre os outros... Em Roma, encontrei mulçumanos dizendo que escutam nosso programa de rádio... Existe algo verdadeiro aí, dizem eles"[22]. Seja como for, a vivência plena de uma crença alcança as "diferenças" mais divinas. Seja onde for, diz Hernández:
(...) é preciso lembrar que os povos indígenas podem deixar a Igreja se perceberem que ela não oferece um lugar digno para eles e para a sua cultura. É um fato inegável que o mundo religioso indígena tem possibilidades de futuro não só dentro, mas também fora da Igreja.[23]
4. Perspectivas e criações
a) Princípio Terra
Cada etnia indígena tem uma história singular, um mito, traçando suas culturas e tradições religiosas. Por exemplo: o mito guarani, do Grande Pai Criador Nhanderuvuçú ao ver a maldade na terra criou Yvý Marane'y - uma terra onde não há males e onde tudo se constrói.[24]
Na tradição judaico-cristã, temos o mito da criação do mundo, escrito no livro do Gênesis: "No princípio, Deus criou o céu e a terra",[25] "Deus disse: 'Haja luz'; 'o firmamento'; 'Que a terra verdeje de verdura'; 'Que haja luzeiros no firmamento do céu'; 'Fervilhem as águas um fervilhar de seres vivos e que as aves voem acima da terra'; 'Que a terra produza seres vivos segundo a sua espécie: animais domésticos, e feras segundo sua espécie', e assim se fez. (...) e Deus viu que isso era bom"[26]. Homem e mulher são co-responsáveis para cuidar da terra: "Sede fecundos, multiplicai-vos, enchei a terra (...)", "Eu vos dou todas as ervas que dão semente (...)".[27]
A vivência dos povos da floresta é de relação com terra, esse palco onde continuamente acontece a arte dos Criadores. A Igreja reconhece o valor da terra para os povos indígenas:
A relação que os povos indígenas têm com sua terra e seus recursos merecem uma consideração especial: se trata de uma expressão fundamental de sua identidade. [28]
Na cultura indígena, o seu saber cultivado de geração em geração manifesta o desejo da alegria, revelada em todas as pinturas. Os índios vivem a arte de saber viver na terra, com ternura. O cesto confeccionado pela tribo pressupõe outra performance, estilo de vida configurado no tempo necessário para tirar os cipós da árvore, sem prejudicá-la, assim os cipós nunca acabarão. A arte de falar, pois para os índios as palavras possuem "espírito" – as palavras só podem dizer o que é verdade. Assim falou Giovani Mariconi, conhecido como São Francisco de Assis - em seu tempo, na Idade Média, quando o desmatamento sem controle das florestas iniciava na Europa, seu Canto das Criaturas chamava o sol e água de irmãos, a Terra de irmã e mãe, o lobo, de irmão. Cacique Seattle, disse em 1854 ao presidente dos Estados Unidos da América em resposta aos que vieram comprar suas terras:
Esta terra é sagrada para nós. Essa água brilhante que escorre nos riachos e rios não é apenas água, mas o sangue de nossos antepassados. O murmúrio das águas é a voz dos meus ancestrais. Os rios são nossos irmãos, saciam nossa sede. Talvez, apesar de tudo, sejamos todos irmãos. Veremos isso.[29]
Neste século. Praça dos Três Poderes em Brasília, setembro de 1993. Acontece o depoimento de Davi Yanomami, liderança e xamã pedindo a terra de seu povo:
Nós estamos aqui. É a segunda vez que estamos aqui. Nós queremos entregar a carta. (...) A autoridade Presidente da República brasileiro poderia receber liderança nesta casa. (...) Ficam com medo da gente, mas não é para matar eles não, só queremos entregar o documento do povo indígena, só isto que nós queremos![30]
A vida dos povos indígenas se manifesta em ritual, de embelezamento da vida, simbolizando-a, cercando-a de natureza, de algo sagrado. É por isso e tantos motivos que os povos indígenas buscam o direito de viver em suas terras. Aqui podemos nos unir mais - assumir a questão ambiental, a justiça e a solidariedade, pelo "outro índio" explorado em sua dignidade de ser pessoa, de ter direito. Pois existem comunidades indígenas na periferia dos centros urbanos onde não existem mais pajés, os pequenos espaços de terra precisam ser preservados e garantidos. É preciso fazer crescer os pajés. Isto é criação. O equilíbrio da ecologia[31] constrói laços profundos entre a natureza e as pessoas, de "reconstrução da aldeia", de infinitos sinais de vivência comum, de re-ligação de todos, de suas crenças. Quando todas as ações são valorizadas na construção de si mesmo, da terra e do universo, nos tornamos mais livres:
O sagrado é encenado por palavras, histórias, imagens, e pela construção de espaço e tempo consagrados. Quando os índios Sioux constroem uma cabana aquecida, ela não é só um amontoado de ramos e pedras que representam certas ideias cósmicas, mas uma encenação dessas ideias. Entrar na escuridão da cabana e reemergir à luz purificado é recriar a vida, não apenas descrevê-la.[32]
Os povos indígenas nos ajudam a rever os conceitos que temos sobre a natureza, as relações humanas, da reconstrução do mundo, da nossa casa. Para os índios Tuyuka a casa é sagrada. O seu Deus Criador, para varrer a maldade da terra construiu "Casas de Transformação", Casas de Leite e Casas de Frutas Doces - onde a alma das crianças são benzidas, onde as pessoas se humanizam se elevam na reza e na festa junto ao "Deus da Transformação" Pamuri Koamaku.[33] Quando as Tribos de Israel (שבטי ישראל, na língua hebraica) ainda estavam unidas no reinado de Davi, cantavam no templo do seu Deus Criador: "Se Iahweh não constrói a casa, em vão trabalham seus construtores... É inútil que madrugueis... para comer o pão com duros trabalhos: ao seu amado ele o dá enquanto dorme" (Salmo 127,v.1 s).
Princípio Terra – quer dizer viver em harmonia em casa e com pessoas, com um Deus Criador. Dançar livre na noite e no sol, na chuva, poder caçar e semear, é a alegria dos povos indígenas. A alegria dos povos indígenas é ação criadora da Terra.
b) Princípio Coração
Os dois gêmeos vivem grandes aventuras para conseguir pescar o seu povo no rio, ou seja, o mito criador de seu povo. Na longa narrativa, os irmãos brigam para tirar o coração da samuameira cortada. No mito a natureza também tem coração. O coração tirado dessa árvore torna-se semente de outra árvore – o umarí, de onde nasce Tet chi aru ngu'ü, a mulher querida pelos dois irmãos[34]. Até o fim da criação os irmãos continuam brigando, traindo, mentindo, querendo a eliminação do outro.
No mito de outros gêmeos e irmãos, alguém morre e outro ocupa seu espaço. Na religião egípcia, Osíris é morto por seu irmão Shete. [35] Em Roma, Rômulo, depois de uma contenda, feriu fatalmente seu irmão Rêmulo com uma lança, matando-o.[36] Na religião judaico-cristã, Caim mata seu irmão Abel[37]. Porém, os gêmeos Ipi e Y'oi não se matam. Essa atitude fraterna gravada no Mito da Criação dos Ticuna é criadora. Os gestos dos manos equilibram as relações do mundo Ticuna, da violência à não violência. Dificilmente veremos casos de morte entre os Ticuna. De acordo com Oliveira Filho, no mito da criação:
Ao falar do comportamento de Ipi os informantes não o classificam como errado, mas sim como estranho. Em alguns contextos ele é mentiroso, raivoso, egoísta e cheio de luxúria, mas isso antes diverte os ouvintes de mitos, pois corresponde a atitudes e desejos normais encontráveis em qualquer um. Não isso que o transforma em objeto de riso e de uma censura sarcástica, mas a sua constante escolha de meios incomuns e não apropriados para atingir seus fins.[38]
O centro do mito é o coração dos irmãos. As atitudes dos irmãos míticos refletem bondade, diálogo, perdão; a criação de um mundo novo. O coração dos irmãos representa o arquétipo central dos Ticuna, ajudando-os a viverem melhor, sem violência, perto das árvores e dos rios. Byington cita o arquétipo das expressões mitológicas das religiões: A Grande Mãe, do Herói, do Velho Sábio, etc.; e escreve:
O Arquétipo Central coordena o desenvolvimento da dimensão psíquica e, por conseguinte, de todo o processo simbólico na personalidade individual e também cultural. (...) O Arquétipo Central é responsável pela constituição genética e psicodinâmica do ser humano para existir como ser humano para existir como ser-no-mundo (Da sein) num processo que busca a verdade e a totalidade.[39]
Mas o que realmente salva, permanece, e é visto? É no coração que os povos indígenas nos vêem. Na etnia egípcia o coração daquele que morria era pesado numa balança cuja medida de contrapeso era uma pena verde. Se o peso do coração viesse a equilibrar os pratos da balança, a alma seria considerada inocente, pelo peso dos gestos bons, que o erguerá até Sekhet-hetepet, os Campos Elíseos – o lugar eterno.[40] No palco da vida a imagem da alegria fica, o amor maior, daquele "(...) que dá a vida por seus amigos".[41] O mineiro nascido em Pedro Leopoldo, que viveu só para fazer bem, disse: "Amar sem esperar ser amado. E sem guardar recompensa alguma, amar sempre"(Chico Xavier).O falecimento, hoje, de um colega, Jaime Biazus, marista que contava histórias sobre os índios Terena de Mato Grosso do Sul. Foi quem me cativou. Quando um rio poluído passa na frente de nossas casas, quando a floresta for atacada pelas chamas, as crianças não tiverem mais pão, os anciãos ficarem perdidos, a bondade tudo alcança, mesmo de um coração enterrado na beira do rio.[42]
Não precisamos de uma revolução...
que destrua os templos, os terreiros, as igrejinhas azuis, a Opã (casa de reza guarani);
que queime os cocares, os trajes , os colares de tucum, os rosários, os livros ,
as cruzes, as máscaras, os bonitos santos e troncos pintados;
que emudeça os rituais, os cantos sagrados, os tambores, os violinos,
o som mágico dos chocalhos e das flautas de bambu;
que acabe com as curas, as bênçãos, os profetas, os pajés;
que apague o fogo dos incensos, das danças.
Precisamos de uma revolução...
que abra as portas da história;
que hasteie outra bandeira;
que glorifique seus verdadeiros heróis.
Precisamos de uma revolução...
que faça ecoar, no canto de cada coração:
A vida precisa ser valorizada, seja qual for a situação.
Édison Hüttner
Coordenador do Círculo de Estudos e Pesquisa
em Cultura Indígena da PUCRS (Porto Alegre)
Co-coordenador da Ação Educativa: Exposição
Séculos Indígenas no Brasil (Brasília)
Ciclo de palestras sobre cultura e movimento indígenas
Palestrantes
Álvaro Tukano
Líder indígena da etnia Tukano
Idealizador do Projeto Séculos Indígenas no Brasil
Ailton Krenak
Líder indígena da etnia Krenak
Idealizador do Projeto Séculos Indígenas no Brasil
Diretor do Núcleo de Cultura Indígena
Américo Córdula
Secretário da Secretaria da Identidade e da Diversidade Cultural do Minc
André R.F. Ramos
Indigenista e historiador
Técnico da Coordenação Geral de Educação da FUNAI
Cristovam Buarque
Senador da República
Presidente da Comissão de Direitos Humanos e Legislação Participativa (CDH)
Édison Hüttner
Coordenador do Núcleo de Estudos e Pesquisa em Cultura Indígena (PUCRS)
Professor Doutor da PUCRS
Frank Coe
Cineasta
Coordenador geral do Projeto Séculos Indígenas no Brasil
Fernanda Jófej Kaingang
Advogada indígena
Mestre em direito público pela UnB
Diretora Executiva do INBRAPI
Zaqueu Kaingang
Líder indígena da etnia Kaingang
Bacharel em pedagogia pela UFRGS
Local
Auditório do IESB
SGAS quadra 613/614
Lote 97/98 - L2 Sul
Brasília/DF
Amplo estacionamento.
17 e 18 de Junho de 2010
Turno da manhã: 8h30-12h30
Turno da tarde: 14h-18h
Para os participantes dos Módulos I e II
SGAS 907 Conjunto A
[1]Em homenagem à valente nação indígena Manaós,no dia 4 de setembro de 1856 pela Lei nº 68, Herculano Ferreira Pena, na Assembléia
Provincial Amazonense – muda o nome da cidade da Barra do Rio Negrro para cidade de Manaus:
[2] Lei Nº 12.032, DE 21 DE SETEMBRO DE 2009. Disponível em <http://www6.senado.gov.br/legislacao/Lista TextoIntegral. action?id =238778.> Atualizado em 29/5/2010.
[3] São apontamentos históricos:
1º Justiça, não esbulhando mais os índios, pela força, das terras que ainda lhes restam e de que são legítimos senhores;
2º Brandura, constância e sofrimento da nossa parte, visto que somos os usurpadores e que nos consideramos cristãos;
3º Abertura de comércio com os índios, trocando objetos mesmo com prejuízo nosso;
4º Procurar com dádivas e ensinamentos, fazer a paz com os índios "inimigos", (...).
Segundo Duarte, estas propostas foram aprofundadas e colocadas em prática mais tarde, pelo Major Antônio Ernesto Gomes Carneiro. DUARTE, B. Rondon, o bandeirante do século XX. Livraria Martins, São Paulo, s/d., pp. 16-19.
[4] RIBEIRO, Paulo de F. A dignidade da nação brasileira repousa na sobrevivência dos índios. In: Séculos indígenas no Brasil :catálogo descritivo de imagens. Porto Alegre : EDIPUCRS, 2008, p.8
[5] "As metas continuam as mesmas: a defesa intransigente dos povos indígenas não por razões meramente humanitárias, mas por causa da Constituição. Apelo à brasilidade de todos. Antigamente os índios foram equiparados a crianças e deficientes que precisavam de tutela. A partir de 1988 receberam cidadania brasileira. Levou um bocado de tempo. Nossa missão é defender seu hábitat (...)". KRÄUTLER, Dom Erwin. Fumaça faz a Amazônia Chorar. PUCRS/INFORMAÇÃO - Revista da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul. Ano XXX,, nº. 134 – Maio-Junho/2007, p. 25.
[6] Fragmento de um discurso proferido por Antonio Samais (Kocama) na aldeia Sapotal,município de Tabatinga, em dezembro de 1988. Cabral, A.S.A.C. Relatório de levantamento preliminar da comunidade Kocama do Alto Solimões, Instruções Executivas: DAF/FUNAI, nn. 124/97 e 154/97, Brasília 1998, p.1
[7] Encontro com o líder Kocama Antonio Samias na Casa de Saúde Indígena da Fundação Nacional de Saúde em Manaus (AM). Dia 23 de Fevereiro de 2010.
[8] O Kuarup é uma expressão cultural das etnias do indígenas do Alto Xingu – Kalapalo, Matipu, Nafukuá, Kuikuro, Waurá, Aweti, Kamayurá, Meynako e Yawalapiti – é a maior festa indígena do Brasil. Relatos da viagem do NEPCI/PUCRS ao Alto Xingu em julho de 2008 – Por ocasião de atividades de extensão em telemedicina. O grupo teve a satisfação de participar nos dias 26 e 27 de da festa do Kuarup (homenagem ao mortos) na aldeia Yawalapiti.
[9] O xamã "É o homem dos momentos difíceis; (...) esta a serviço da comunidade humana e não dos deuses. Sua devoção está voltada para o povo; (...) Sua ação visa apropriar-se dos espíritos para colocá-las a serviço da libertação das pessoas e quebrar todas as amarras que interferem na aldeia; (...) Sua autoridade é de ordem simbólica. É autoridade sem poder. Exatamente por isso, defende com tanta garra a herança simbólica do grupo: os ritos e os mitos, as danças e cerimônias". E. Hoornaert, História do cristianismo na América Latina e no Caribe. São Paulo 1994, p. 384.
[10] Grande parte dos Ticuna do Alto Solimões decidiu seguir o movimento do Irmão José dentro dos pressupostos de todas as suas normas, doutrinas, bem como a exigência de um novo estilo de comunidade orientada pelo signo da cruz. Em todas as comunidades dessa seita existe uma grande cruz de madeira. Os índios a carregam no peito e se vestem de branco durante as cerimônias, com bíblia católica. HÜTTNER, Édison. A Igreja Católica e os Povos Indígenas no Brasil: Os Ticuna da Amazônia. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2007, p. 73-75.
[11] GARCIA, Miguel Angel. Paisajes sonoros de un mundo coherente. Prácticas musicales y religión en la sociedad wichí. Buenos Aires: Instituto Nacional de Musicología Carlos Vega, 2005, p. 249 ss.
[12] SANTILLI, Paulo. Pemongon Patá: Território Macuxi, rotas de conflito. São Paulo: Editora UNESP, 2001, p. 33
[13] Santos, Danuzia Tavares dos. Elementos católicos em sua religiosidade. In: Índios do Nordeste: temas e problemas 4. (orgs.) Luiz Sávio de Almeida, Christiano Barros Martinho da Silva. – Maceió: EDUFAL, 2004, P. 195ss.
[14] "Ouricuri é o ponto alto da atividade xamãnica entre os kariri-Xocó". SILVA, Christiano Barros Marinho. Os índios Fortes: aspectos empíricos e interpretativos do xamanismo Kariri-Xocó. In: Índios do Nordeste: temas e problemas 2. (orgs.). Luiz Sávio de Almeida, Marcos Galindo, Júlia Lopes Elias. Maceió: EDUFAL, 2000, p.316ss.
[15] Jurema (Mimosa hostilis Benth) é uma árvore da qual se faz uma bebida que tem propriedades psicoativas.
[16] URBAN, G. A História da Cultura Brasileira segundo as Línguas Nativas: Histórias dos índios no Brasil. São Paulo: Companhia das Letras, 1992, pp. 92-100.
[17] DIALOGO E ANNUNCIO. Riflessioni e orientamenti sul dialogo interreligioso e l'annuncio del Vangelo di Gesù Cristo. In: PONTIFICIO Consiglio per il dialogo interreligioso. Il dialogo interreligioso nel magistero pontificio : Documenti 1963-1993. Roma: Libreria Editrice Vaticana, 1994, p.701.
[18] PONTIFICIO Consiglio per il dialogo interreligioso. Il dialogo interreligioso nel magistero pontificio: Documenti 1963-1993. Roma: Libreria Editrice Vaticana, 1994, n. 29-30, p. 23.
[19] "Art. 5º. Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: (...) VI - é inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo assegurado o livre exercício dos cultos religiosos e garantida, na forma da lei, a proteção aos locais de culto e as suas liturgias;" CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL DE 1988 - TÍTULO II Dos Direitos e Garantias Fundamentais. CAPÍTULO (I) DOS DIREITOS E DEVERES INDIVIDUAIS E COLETIVOS. Disponível em < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constitui%C3%A7ao.htm> Atualizado em 22/04/ 2010.
[20] O Concílio Vaticano II foi um acontecimento reestruturador que impulsionou e orientou o caminho da Igreja: a) superamos a visão de sermos detentores de toda a verdade sobre Deus e aprendemos a mergulhar no Mistério da salvação, reconhecendo que também nas outras tradições religiosas há Sementes do Verbo ocultas. AG 11 - CONCÍLIO VATICANO II, Ad Gentes, São Paulo: Paulinas, 1991), que nas tradições religiosas não cristãs existem "coisas boas e verdadeiras" (OT 16) Optatam Totius, São Paulo: Paulus, 1997), ou "raios da verdade que ilumina a todos os homens" (NA 2) Notra aetate, 12ª ed. Petrópolis: Vozes, 1968.
[21] RUFFALDI, P. N. (PIME) e SPIRES, Ir. R. (Orgs.) A terra sem males em construção – IV Encontro Continental de Teologia Índia. Belém – Pará: Editora Mensageiro, 2002, p. 131.
[22] Aula Magna de Fr. Raniero Cantalamessa em 24 de maio de 2010 – na Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul.
[23] HERNÁNDEZ, E. L. Deus, tradições indígenas e globalização. In: Teologia para Outro Mundo Possível. SUSIN, L. C. (org.), São Paulo: Paulinas, 2006, p. 316.
[24] NIMUENDAJU Unkel, As lendas da criação e destruição do mundo como fundamentos da religião dos Apapocúva-Guarani. São Paulo: Hucitec/EDUSP, 1987, p. 156ss. O mito inspirou D. Pedro Casaldáliga de São Félix do Araguaia, MT a criar a Missa da Terra Sem Males, com a participação do poeta Pedro TIERRA e o músico Martin COPLAS, argentino.
[25] Gn. 1,1.
[26] Gn. 1,3-24.
[27] Gn 1, 28-29.
[28] Pontifício Conselho Justiça e Paz. Compêndio da doutrina social da igreja (CDSI). São Paulo: Paulinas, 2005, n. 471.
[29] Carta do Cacique Seattle. In: CAMPBELL, Joseph. (org.) Betty Sue Flowers. Tradução de Carlos Felipe Moisés. São Paulo: Palas Athena, 1990 O Poder do Mito. 1990 , p. 47-48.
[30] Séculos indígenas no Brasil, Op., cit., p. 102
[31] O termo ecologia foi utilizado pela primeira vez pelo biólogo alemão Ernst Haeckel, em 1966, cujo significado é casa, provindo da língua grega, oiko. Portanto – Ecologia é relacionamento imediato, relacionamento sinérgico, do núcleo da terra (minerais) da superfície (onde habita milhões de seres vivos), com outras casas, o sol, a lua, os outros planetas, a casa do universo. Tudo, em contínuo processo de criação.
[32] Paden, W. E. Interpretando o sagrado: modos de conceber a religião. São Paulo: Paulinas, 2001, p. 173.
[33] AEITU; FOIRN; ISA. Wiseri Makañe Niromakañe - (Casa de Transformação: origem da vida ritual Utãpinopona Tuyuka). Histórias contadas por membros da AEITU, Associação Escola Indígena Utãpinopona Tuyuka. São Gabriel da Cachoeira, AM; São Paulo, SP; 2005, p. 123-124
[34] Gruber, J.G. (Org.), O Livro das árvores. Organização Geral dos Professores Ticuna Bilíngue, Benjamin Constant 1997, p. 74ss.
[35] CARDOSO, C. F. Deus, múmias e ziggurats: uma comparação das religiões antigas do Egito e da Mesopotâmia. Porto Alegre: EDIPUCRS, 1999, p. 27.
[36] LEFEVRE, Silvia. Rômulo e Rêmulo. Série Mitologia. Mitologia, vol III. São Paulo: Editora Abril Cultura. 1973, p. 697.
[37] Gn 4,8.
[38] Oliveira Filho, J. P. O Nosso Governo. Os Ticunas e o Regime Tutelar, op. cit., p. 106.
[39] BYINGTON, C. A. B. O enfoque arquétipo da crise simbólica no ocidente e a necessidade de símbolos de outras culturas. In: A. A.V.V. Moitará I: O simbolismo nas culturas indígenas brasileiras. BYINGTON, C. A. B. (Org.), São Paulo: Paulus, 2006, p. 30-31.
[40] CARDOSO, C. F. Deus, múmias e ziggurats: uma comparação das religiões antigas do Egito e da Mesopotâmia. Porto Alegre: EDIPUCRS, 1999, p. 27.
[41] Jo 15,13.
[42] No outono de 1877 o coração do índio Tashunka Yotanka foi enterrado por seus pais no rio Chankpe Opi Wakpala, chamado Wounded Knee – lugar onde depois, como ele, morreram índios defendendo suas terras. BROWN, Dee. Enterraram meu coração na curva do rio. Tradução de Geraldo Galvão Ferraz. Porto Alegre: L&PM, 2003, p. 302.
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