Bruno Peron
Ainda tenho minhas dúvidas sobre como o Brasil, que tem muita gente que não presta, poderá ir para frente. Em cada depósito de esperança, surgem novas dívidas de desgraça.
Este país é tomado por aproveitadores, corruptos, assassinos e ladrões desde o cerne de movimentos populares às cúpulas de decisão.
Os grandes debates políticos concentram-se no impasse entre Estado e mercado, mas deveriam primeiramente identificar onde está o "bem" e o "mal".
Os fragmentos do mapa do Brasil são assenhoreados em vez de compartilhados pelos tupinicas. Há raras exceções dos que se marginalizam da engrenagem pútrida por discordar de seu funcionamento.
O termo "engrenagem" substitui o eufemismo "sistema" porque este já faz parte do vocabulário da condescendência e da resignação. Receitas de um país cuja culinária é apropriada pelos indivíduos, grupos e países pujantes.
É fácil mudar um sofá de lugar, mas o mesmo não se pode dizer da cultura. Muito menos da cultura clientelista e vassala que se propaga na velocidade de um vírus H1N1 neste nosso "país do futuro".
A venalidade dos políticos em corrida eleitoral anula qualquer pretensão de desenvolvimento no Brasil. O voto de um eleitor ponderado é imediatamente anulado pelo de outro que recebeu uma cesta básica para sustentar a horda de filhos que dispõem de um triste destino pré-natal: a pobreza espiritual e material. A produção em série de descendentes é interessante para os mordedores do mapa tupinica.
É um problema duplo: de ordem educativa e econômico-social.
Dando continuidade ao tema da decadência tupinica, entorpece o fato de que viver atrás das grades tem sido opção em vez de flagelo.
Somado à constatação de que "autoridades" têm direito a cela com televisão por assinatura e ar-condicionado, quando não burlam a justiça por sua posição de destaque nos negócios e na sociedade, o criminoso que recolhe a taxa mensal como segurado da Previdência Social tem direito ao auxílio-reclusão, que é uma bolsa de R$798,30 dirigida à família do presidiário que tiver filhos.
O valor é maior que o salário mínimo de R$510. A condição de presidiário lhe dá esse direito renovável a cada três meses pelo tempo em que estiver recluído. O criminoso sustenta a família sem laborar, enquanto o trabalhador livre muitas vezes ganha menos por uma atividade pesadíssima e sofre as piores explorações, inclusive do próprio Estado.
O Brasil está nadando em merda.
Presidiários deveriam trabalhar para a sociedade, por exemplo na colheita ou construção civil, em retribuição ao dano causado e na emulação de sistemas carcerários que funcionam. Não há desgraça pior que o nosso complexo presidiário.
Não tarda muito para que apareça a expressão de que "falta vontade política" para mudar uma situação cujo desajuste é evidente e impostergável.
Nalgum momento de meu ativismo, expressei que podemos perder tudo menos a nossa capacidade de sonhar. Chegou o momento em que temos que elevar a sinalização de protesto antes de que o lugar mais digno de viver seja a placenta.
Precisamos impulsionar a educação, reinventar a política e dizer basta aos excessos cometidos contra a cidadania. O mapa tupinica está cheio de mordidas e, por isso, apresenta-se desgastado.
Chegará o momento das pessoas de bem, que não farão oposição em prol de interesses de classe senão de um convívio coletivo e responsável.
A esperança reside naqueles que preservam os sonhos.
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