Luiza Caires, do USP Online
Uma parceria do Instituto de Química (IQ) da USP com a Universidade do Texas em San Antonio (EUA) resultou no veículo Lab on a Robot (Loar – laboratório em um robô), utilizado para detecção remota de substâncias presentes em armas químicas. O objetivo é permitir que, em cenários de guerra ou atentados terroristas, sejam levados equipamentos de análise química a longas distâncias, para que se avaliem previamente as condições do ar, dispensando a presença humana nos testes em locais de risco.
O Loar 3, terceira versão de um equipamento que já vinha sendo testado no Texas, foi montado no Laboratório de Automação e Instrumentação Analítica do IQ, sob a coordenação do professor Claudimir Lucio do Lago, e representa uma fase do projeto que se aproxima mais da aplicação prática. "Os dois primeiros protótipos eram bem pequenos, e não poderiam ser testados em campo. Este terceiro, embora ainda seja uma 'prova conceito', já traz mais características de um dispositivo que pode ser empregado na prática", explica o professor Lago.
Utilização
Dentro da área militar, o veículo poderia anteceder o deslocamento de qualquer grupo de pessoas, militares ou civis, para áreas suspeitas de contaminação, como por exemplo um um campo para refugiados, antes que estes se direcionassem ao local.
Em área urbana, ele poderia ser utilizado para avaliar o ambiente em eventos como o atentado ao metrô de Tóquio com gás Sarin, em 1995. Além disso, com a programação adaptada para analisar outros gases, o Loar poderia ser utilizado na segurança em indústrias químicas ou petroquímicas.
Na atual fase do protótipo, o trabalho é feito em equipe. Em estágios posteriores, seria possível que apenas uma pessoa controlasse o veículo, que simultaneamente coletaria dados e emitiria alertas quando necessário. Porém, como explica o pesquisador, "a estrutura de software e hardware permite que as tarefas de controle e análise de dados fiquem distribuídas até mesmo por várias máquinas espalhadas por diversas partes do mundo".
Laboratório em um robô
Todo o veículo, inclusive a parte mecânica e de telecomunicações, foi desenvolvido no laboratório do IQ, com o envolvimento de pesquisadores de iniciação científica e pós-graduação. Para a parte motora foi utilizada a base de um quadriciclo, onde foram acoplados os dispositivos de análise e os computadores que transmitem os dados coletados a uma base, por um sistema semelhante ao de rede wireless (sem-fio) de computadores.
O Loar 3 carrega dois instrumentos de análise: um biossensor, desenvolvido na Universidade do Texas com a participação de Carlos Neves, pós-doutorando do IQ; e um equipamento para eletroforese capilar, montado na USP.
O biossensor é capaz de detectar, no ar, vestígios de armas químicas baseadas em agentes que atuam sobre o sistema nervoso, como os gases sarin, VX e o gás mostarda, entre outros compostos utilizados em guerras químicas. Todos eles, ao entrar na corrente sanguínea, hidrolisam (decompõem em contato com a água), e geram uma substância tóxica que age no sistema nervoso central. O dispositivo trabalha com uma enzima que consegue detectar se o que está no ar analisado pode provocar este tipo de intoxicação – sem precisar, porém, qual o agente utilizado.
Já o equipamento de eletroforese capilar coleta amostras do ar, transfere para a água, separa todos os componentes coletados, e detecta se existe algum agente químico, além de especificá-lo.
A eletroforese capilar já é um procedimento largamente utilizado em análises químicas e biológicas. O equipamento levado pelo Loar 3, entretanto, foi desenvolvido especificamente para as condições previstas, sendo adaptado, por exemplo, para o suportar o movimento do veículo.
O biossensor serviria para dar uma resposta rápida, e o o dispositivo de eletroforese capilar um retorno mais completo, dizendo que tipo de agente foi lançado.
O projeto foi financiado pelo Office of Naval Research – Global (ONRG), departamento de pesquisa ligado à marinha dos EUA. Atualmente, a equipe de Lago avalia a possibilidade de dar continuidade à pesquisa, aprimorando o equipamento. "Podemos prosseguir com o projeto, desde que nos sejam dadas condições de priorizar pontos de interesse acadêmico dentro da química", ressalta o docente.
Imagens: Marcos Santos--
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